Violão

Guitarra = Piano

A guitarra pode solar e acompanhar ao mesmo tempo, como o piano? E ainda fazer o baixo simultaneamente?

enviado por: Aline .

Como assim? A guitarra pode solar e acompanhar ao mesmo tempo, como o piano? E ainda fazer o baixo simultaneamente? Sim, e é assim que pensam os adeptos do fingerstyle,
o estilo dos guitarristas que fazem uma abordagem pianística da guitarra e que não tocam com a palheta, e sim com os dedos.

Os precursores mais notáveis deste estilo foram George Van Eps (também pioneiro da guitarra de sete cordas) e Barney Kessel. Mas quem explorou muito o fingerstyle e
ficou fortemente associado a ele foi o grande mestre Joe Pass.
Ele gravou, a partir de 1974, uma série de discos chamada “Virtuoso”, formada por cinco CDs (quatro em estúdio e um ao vivo) onde toca guitarra solo, sem nenhum outro músico.
Esses discos elevaram definitivamente a guitarra à condição de instrumento solista, na acepção mais completa da palavra. Já haviam sido lançados, até então, muitos discos de piano solo,
em que o pianista fazia a sua leitura de algum standard, tocando a melodia, a harmonia e o baixo simultaneamente, e ainda improvisando e se acompanhando ao mesmo tempo.
Mas o “Virtuoso n.1” é, senão o primeiro (Van Eps lançou “My Guitar” em 1966), o mais conhecido disco inteiramente de guitarra solo, onde o mestre mostrou todo o potencial polifônico da guitarra.

Com o tempo o estilo foi se desenvolvendo mais, principalmente graças à grande contribuição do incrível Lenny Breau (que assinou a coluna “Fingerstyle Jazz” da Guitar Player americana de 1981
até sua morte precoce no final de 1984), seguido do ultravirtuoso inglês Martin Taylor e do mestre Tuck Andress.

A idéia do fingerstyle é que, se tocar utilizando ao menos os dedos p, i, m e a da mão direita (Lenny Breau usava fluidamente o mindinho), é possível sincronizar a melodia com o acompanhamento e,
com um pouco mais de estudo, com o baixo também.
Para isso é necessário pensar como um pianista, que precisa concatenar esses três itens o tempo todo, podendo tocar um ou dois deles por vez ou os três itens simultaneamente. E isso não apenas ao executar a melodia, ao improvisar também.
Aliás, o desafio de tocar o baixo junto com o solo motivou o excepcional Charlie Hunter a unir os dois instrumentos, tocando uma guitarra de 8 cordas em que as três cordas superiores são de baixo mesmo.

No fingerstyle há três categorias básicas:
1) bloco , onde melodia e harmonia coincidem constantemente e quase não há baixo;
2) melodia e apoio (sem baixo), onde a divisão da harmonia independe da melodia (como no piano) e
3) arranjo completo, com melodia, acompanhamento e baixo independentes (a especialidade de Martin Taylor).

Veja alguns exemplos práticos:

O Ex.1 mostra o começo de Tune Up de Miles Davies. Repare que há três vozes independentes (melodia, acompanhamento e baixo), que podem coincidir ou não.

Exemplo 01:



E como a MPB casa muito bem com o fingerstyle, o Ex.2 mostra os primeiros compassos de A Felicidade de Tom Jobim, com bastante movimentação na voz do baixo, sincopas na melodia e contratempos na harmonia.

Exemplo 02: